Note: English version below
“Normalmente as ideias não me
surgem quando me sento a escrever, mas sim quando estou a viver”.
Decidi utilizar esta frase de
Anais Nin para tentar organizar as emoções e sentimentos que senti durante os
primeiros 3 meses em Portugal e porque acredito que muitas vezes é numa folha
branca de papel que nos podemos confrontar com os nossos pensamentos mais
profundos. Quando escrevemos temos a oportunidade de ser honestos e seria uma
parvoíce não aproveitar este momento de pura transparência.
Assim, tenho de confessar que as
minhas primeiras impressões da minha estadia no Montijo foram tudo menos
positivas...
Cheguei num dia tórrido no final
de Junho, que na verdade aos meus olhos
me fazia lembrar um cenário do Silent Hill ou do Resident Evil – um calor
imenso, não se via ninguém na rua, só faltavam mesmo os fardos de palha no meio
da rua.
A ideia de ter de esperar duas
semanas até chegarem os restantes voluntários e começar efectivamente a
trabalhar não era muito atractiva, e se a isso acrescentarmos a dificuldade que
era decifrar os horários dos transportes para chegar a Lisboa, ou junto to mar,
a coisas não estava nada positiva.
No entanto, como normalmente
acontece em momentos “trágicos”, foram as pequenas coisas, os detalhes, que
gradualmente foram tornando tudo mais agradável: a bondade do staff da
associação, os encontros com as crianças do Roda Livre, a descoberta
progressiva do bairro e da cidade, as viagens mais frequentes a Lisboa, os fins
de semana a praia, a chegada dos meus colegas.
Aos poucos familiarizei-me com o
ambiente à minha volta e fui ganhando o carinho das crianças e do bairro, que
na verdade me adoptou.
Acho que até agora, enquanto
equipa temos feito um bom trabalho, primeiro estabelecendo uma boa relação com
a comunidade envolvente e entre nós, trabalhamos juntos e apoiamo-nos
mutuamente, apesar das diferenças culturais e comportamentais que nos diferenciam,
mas que nunca devem ser factor de exclusão.
É assim que retrato a situação
passados 3 meses, com o passado atrás das costas e com um olhar sereno e
optimista focado no futuro.
Michele
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"My ideas don't usually come to my desk while
I'm writing, but while I'm living”.
I borrowed this phrase from Anais Nin to try to
sort out the emotions and feelings that I felt during these first three months
in Montijo and because I believe that often stripping them bare on a blank
sheet allows you to confront the deepest and most submerged part of yourself.
At least when you write something personal I
think you need to be honest, because it is one of the few moments when we are
accountable exclusively to ourselves and it would be really stupid to deprive
ourselves of this fleeting moment of pure transparency.
I must therefore admit that the first
impressions of my stay in Montijo were anything but positive.
Arriving on a torrid Saturday at the end of
June, in fact, what had appeared to my eyes reminded me sinisterly of a level
of Silent Hill or Resident Evil: all hermetically tight, not a person around,
were missing only bales of hay in the middle of the road.
The prospect of having to wait until late July
for the other volunteers to arrive and start working was not very attractive,
if we add the difficulty in understanding the timetables of public transport to
reach the sea or Lisbon the picture was certainly not positive.
As often happens, however, in situations that
seem to be "tragic", it was the small things, the details, that
gradually made the picture more pleasant: the kindness and helpfulness of the
staff, the meeting with the children of Roda and the progressive discovery of
the neighbourhood and the town, the increasingly frequent trips to Lisbon, the
relaxing weekends at sea, the arrival of my colleagues.
In a slow but constant way, therefore, I became
familiar with the environment and little by little I won the affection of the
children and the neighbourhood in general, which in fact adopted me.
I think that so far as a team we have done a
good job, first of all establishing a good relationship with the surrounding
environment and between us, working and supporting each other despite all the
cultural and behavioural differences that distinguish us, but that should never
be grounds for exclusion.
This is my portrait of the situation three
months later, with an eye behind my back and an optimistic and serene look to
the future.
Michele
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